A professora, me ensinou errado, o uso da vírgula!

Na sexta série, a professora Ana corrigiu minha redação e apontou que o texto estava muito liso, faltavam pausas, vírgulas. Okay, mas como eu as coloco, então? Ela tomou aquele tom professoral e explicou, com a melhor da intenções e o menor dos conhecimentos, que a vírgula era usada sempre que a gente parava para respirar, ao longo do texto.

Eu achei tudo isso muito complicado de colocar na prática, mas desenvolvi o seguinte mecanismo: eu escrevia o texto inteiro primeiro, sem vírgula alguma, corrido mesmo, e depois o lia baixinho para notar os momentos em que tomava ar. A tragédia da coisa é que, nesse período da minha vida, eu estava em um pico das minhas crises de asmas e o fôlego era bem pouco. Meu texto ficava salpicado de vírgulas, uma a cada 5 palavras mais ou menos, de maneira totalmente aleatória e arbitrária- pelo menos do ponto de vista de um leitor não consciente das limitações pulmonares do autor.

Ela reparava na quantidade anormal dos símbolos, perguntava o motivo e ficava completamente satisfeita, ao ponto de elogiar que eu realmente tinha entendido o conceito, quando eu respondia "É asma!". Mantive o hábito por pelo menos uns dois anos, até ter mais contato com literatura e começar achar aquilo meio estranho.

Pô, o Graciliano, dos períodos curtos, com poucas vírgulas, tinha pulmão de atleta? Manuel Bandeira, apesar da tubercolose, conseguia prender a respiração quando verseava? E o Euclides da Cunha e José de Alencar, reis dos períodos longos, das orações adjetivas e adverbiais, virguladíssimos, eram asmáticos como eu? É um determinismo biológico, se você pensar bem. O estilo de cada escritor é análogo à chapa do pulmão dele, nessa regra,

Me livrei disso, com tempo. Ou nem tanto. Teve uma crônica minha, um ano atrás, que o cara comentou que uso vírgulas demais. É o pós-covid, leitor, é o pós-covid.